Ler o blogue da Madalena de que falei aqui fez-me pensar na coragem que é preciso para arriscar uma mudança na vida. A pessoa habitua-se ao que tem como certo, o dia-a-dia, o trabalho, a família, o namorado, independentemente da ordem e da prioridade, e pensar em quebrar essa rotina pode ser quase um choque.
Durante quase três anos estive profissionalmente ligada ao tema do empreendedorismo; Deixou de ser um palavrão estranho para passar a ser um novo mundo de aprendizagem.
De tudo o que aprendi recordo aquilo com que mais me identifiquei: a cultura da estabilidade. Os portugueses sonham com a estabilidade pessoal e profissional, com um emprego fixo e certo, com uma casa, com um carro, etc; No geral lidam mal com a instabilidade e com a incerteza ou a insegurança que vêem com o correr o risco. identifiquei-me muito com isto porque partilho desta cultura e procuro viver desta forma, com certezas, com seguranças e também com as consequências que daí advêm.
Há uns meses uma colega dizia-me que não via a hora de conseguir deixar a empresa para abrir o seu atelier de design e trabalhar por conta própria. Eu disse para mim “nem morta”; Por todos os motivos, por adorar a minha empresa, a sua cultura, o meu trabalho, os projectos e os colegas; E também, ou mais ainda, por detestar a ideia de trabalhar por conta própria, a incerteza de projectos, a certeza de clientes maus pagadores, a certeza da minha falta de paciência para lidar com clientes pouco dados à cultura visual e com quem eu teria de falar noutra “língua”… Nada me atrai nessa forma de trabalho a não ser a liberdade de horários, mas nem isso me faria mudar de ideias. Já para não falar das papeladas, das finanças e da segurança social, dos impostos e da carga fiscal e burocrática sufocante nesta terra!
Outro dia em conversa com um amigo de uma amiga este contava a sua experiência como guia turístico freelancer e dos pontos bons eu ouvi pouco, porque ele incidiu muito mais nos negativos; Na forma como o seu emprego é instável, como trabalha quase apenas seis meses no ano, e esses meses são passados muitas vezes longe de casa. Contou também como é a relação com os clientes (as operadoras turísticas) e todos os diversos problemas que tem com uns e outros, já para não falar na psicologia dos grupos de turistas… Pensei para mim que este não deve ser um emprego nada agradável, pelo menos para a minha forma de ser, sei que não dava para mim!
O país tenta estimular o empreendedorismo e as novas ideias mas esquecem-se todos que estamos num país de velhos, em espírito e não necessariamente em idade, que vivem pelas regras e conceitos de outrora mais que ultrapassados e estrangulam uma boa parte do espírito empreendedor e da resiliência. Há muitos bem sucedidos, que sei que há, mas também há muitos que não aguentam, que afundam. Desses ninguém fala, talvez para evitar o contágio de uma “nuvem negra”, mas esses são tão importantes como os outros. Há muitas razões para falhar, e outro problema comum dos portugueses é o medo do erro, o medo desse erro ficar mais conhecido do que o sucesso que o possa ter precedido. O medo é lixado, e nós por cá somos peritos em encontrar a justificação para o erro, e dizer que isto ou aquilo não resultou porque aqui d’el rei choveu uma carga de água. Temos sempre a tendência de justificar, de desculpar, e até de sacudir a água do capote e com isto acho que nunca aprendemos realmente nada de novo.