Há umas semanas o Porto foi novamente considerado o destino Europeu de 2017, e eu dei por mim a reflectir um pouco na minha relação com a cidade.
Não é um local onde só tenha passado uma ou dias vezes, é uma cidade que me está ligada pela força das relações familiares, sem o estar. O meu pai, um alfacinha de gema até ao início da década de 90, que dizia a quem quisesse ouvir que o melhor que o Porto tinha era a estrada para Braga, escolheu esta cidade para viver, e lá ficou até hoje. De alfacinha, não sobrou nada.
Este foi o motivo que começou a minha relação com a cidade, não de uma forma muito agradável, mas sob a aura das “visitas” ao pai, à madrasta, e ao resto da família que se seguia. Estas visitas não estão entre as minhas melhores recordações, mas ao longo dos anos aprendi a conhecer a cidade e a refugiar-me nela.
Comecei por descobrir Serralves, e usar esse espaço de museu de arte contemporânea como um refúgio; Sabia que não agradava ao meu pai, e por isso possibilitava-me momentos de solidão, tão apreciada, recato, contemplação, segurança. Ali sentia-me a salvo, fosse do que fosse que me dava todas as ansiedades e todos os nervosismos. Passei a ver exposições sempre que estava na cidade, fosse sobre o que fosse...
Quando o ânimo era outro gostava de ir à Baixa, à Rua de Santa Catarina ver as montras, uma tarefa inglória de fazer com o meu pai que só se entretinha na Fnac; Também gostava dos Clérigos, da livraria Lello antes do assalto turístico, d’ “A vida Portuguesa”, das Galerias de Paris, da Avenida, de Cedofeita e da Leitaria da Quinta do Paço. Anos mais tarde descobri a Rua Miguel Bombarda e a galeria Cervartes na Rua da Constituição, onde fui com a minha madrasta a contragosto do meu pai! A zona da Ribeira foi outra descoberta, para dias agradáveis de Sol, e a juntar a estes locais vem a Foz, por aí haver uma casa onde fiquei algumas vezes; Aprendi a conhecer minimamente as ruas geométricas, as lojas e a aproveitar o passeio junto ao mar onde cheguei a andar de bicicleta. Menos a meu gosto a zona da Boavista, por ser demasiado perto de casa, onde eu nunca fazia questão de estar muito tempo, mas onde encontrei mais refúgios: o Brasília, o Península e o Cidade do Porto, o trio dos centros comerciais mesmo ali à mão.
Ultimamente já volto à cidade com outro ânimo, com outra vontade e já a vejo com outros olhos, tendo deixado de lado ressentimentos do passado, dias negros de chuva e secas de meia-noite. É como se só nestes últimos tempos me tivesse dignado a conhece-la, para lá dos preconceitos que instituí nos anos anteriores.

Momento "
Run Forrest, Run!", captado em 2015 e protagonizado pelos patos de Serralves, numa das vezes em que estive no Porto de coração aberto e sem contrariedades!