O ovo onde vivemos fica num prédio antigo, numa zona velha, numa cidade já periférica a Lisboa (onde eu só posso fazer planos para morar se me sair o euromilhões…mas como não jogo se calhar nem isso!), naquele que é para mim o local mais feio, mesmo feio, feio que dói.
Quando fomos ver a casa pela primeira vez e vi onde ficava o prédio caiu-me tudo ao chão e disse “O pior é que vou adorar a casa, vais ver”. Dito e feito, pelas 3 fotos do site já parecia jeitosa, mas ao vivo era ainda melhor, tinha o equipamento todo, mesmo todo incluindo frigorífico e máquina de lavar, estava toda remodelada, e por dentro até quase me esquecia onde ficava o prédio. Dissemos logo que sim, que ficávamos com a casa, depois de meses e meses de procura, esta para além da localização que eu não gosto particularmente não tinha defeitos. Era pequena mas eu não queria mais espaço porque só dá mais trabalho a limpar, e para nós chegava e sobrava. Assim, voltei a morar numa zona muito “bairro” em que as pessoas se conhecem e falam nas esquinas, em que o comércio local ainda existe, e logo eu, uma anti-social desgraçada que não vai muito em falar com estranhos!
Estávamos lá há uns meses quando um dia enquanto carregávamos o sofá para casa uma vizinha se aproxima de mim, cumprimenta-me e entabula uma conversa que me começou por deixar toda baralhada. É uma moça nova, são os nossos vizinhos do lado e têm um bebé que estava doente há umas semanas e chorava imenso todas as noites por isso ela veio pedir-nos desculpa, porque era mesmo encostado ao nosso quarto e devia incomodar-nos. Fiquei de boca aberta até ao chão pela atitude. Disse-lhe que era perfeitamente normal, que não se preocupasse e desejei as melhoras da criança mas percebi logo aí que estava numa “terra” diferente daquela onde gosto de morar em isolamento!
Sou daquelas pessoas que vive bem sem conviver demais, que não mete conversa por nada e hiper-ventilo se tiver de pedir alguma coisa ou incomodar alguém. Gosto de viver em prédios mas sempre achei que o ideal era nunca encontrar vizinhos!
Há umas semanas ia a sair de casa de manhã e vinha uma senhora, talvez da idade da minha avó a entrar com um saco de compras. A porta do prédio pesa tanto como um portão de quinta e eu segurei e disse à senhora para entrar, como não me passava pela cabeça fazer outra coisa por muita pressa que tivesse, que nem era o caso. A senhora ficou encantada, agradeceu-me muito ao ponto de quase ficar constrangida.
Hoje ao sair voltei a encontrá-la, e como entrou no prédio antes de eu chegar à porta segurou-a para mim; Dei os bons dias e agradeci tomando o peso da porta. “Bom dia, então como está a senhora?” Depois de engolir o meu espanto instantâneo pelo ‘senhora’ respondo “Bem, obrigada e a senhora?”, passei para o lado de fora e seguro a porta para não bater, “Ah também. Então tenha um bom dia” ao que devolvo “Igualmente” antes da porta fechar completamente. Toda esta conversa decorreu com largos sorrisos e uma expressão muito simpática!
Enquanto ia para o carro pensava que a vizinha ficou minha fã, e logo eu que sempre fugia dos vizinhos, que sempre evito uma conversa sem tema daquelas de elevador (que aqui no prédio nem há)! Depois imaginei que a senhora deve estar satisfeita porque talvez a zona esteja a viver uma renovação de pessoas, afinal num prédio tão velho de 4 andares há pelo menos 3 casais novos e um bebé.
Se calhar posso lá ir bater à porta quando me faltar o açúcar...ou ir ao Pingo Doce que fica a 100 metros!!