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Esta semana que passou foi quente e dolorosa; Foi um arrastar de sofrimento do princípio ao fim. Um destes dias ao almoço, enquanto víamos as notícias percebi que há locais que entram para a história pelos acontecimentos mais infelizes, e assim, também Pedrógão entra nas nossas memórias para sempre, como um dos acontecimentos mais negros que teremos para contar.
Constantemente ficava com vontade de clicar no "STOP" desta vida; Parar tudo por momentos; Parar o fogo, a dor, a tristeza; Simplesmente parar. As histórias tristes atropelam-se umas às outras, e por vezes já não queria ouvir, nem saber de mais nada. Mas não é fácil criar o mesmo distanciamento do que de algo noutro país ou continente; Aqui, para além de estarmos mais perto temos pessoas, amigos e familiares de outras pessoas, e mais forte ou mais fraco todos conseguimos traçar um elo nosso até à tragédia, e por isso é impossível suceder no afastamento. É essencial continuar, é preciso saber, estar informado; De repente lembramo-nos daquela amiga da escola que tinha ali família e amigos, ou do nosso colega de trabalho que é bombeiro voluntário na Sertã, e sobre quem temos medo de perguntar, caso não o virmos na sua mesa por vários dias.
Nesta angústia tudo se dilui; sabemos que é preciso continuar, caminhar, mais torto ou mais direito, mas com que forças? Se nos colocarmos na "pele" de alguém, como é possível seguir com a vida?
Uma destas noites estava tão quente que dei cinquenta voltas na cama. O ar pesava, o vento não corria apesar das janelas todas abertas; Custava-me respirar, bebia água para absorver o oxigénio que sentia que o ar não tinha. O calor envolveu-nos quase toda a noite. Às três e tal da manhã levantei-me e fui buscar água fria que a que tinha no quarto já estava morna; O chão estava quente, a água da torneira também, só me apetecia entrar dentro do frigorífico e dormir lá. Quando voltei para a cama continuava com a sensação de que o ar pesava muito e que não me chegava aos pulmões; Pensei no que estaria a acontecer no terreno por aquela hora, se eu ali em casa mal conseguia respirar, que inferno estariam bombeiros e populações a viver nesse momento? Às quatro da manhã senti finalmente o ar mais fresco, respirar ficou mais fácil e dormi umas 3 horas minimamente confortável; Levantei-me cedo, urgia correr para o escritório...pelo menos ali podia contar com ar condicionado todo o dia; Na véspera tinha lá ficado até às oito da noite, com receio da temperatura que teria de enfrentar.
Nesse dia quando saí para ir almoçar a casa senti-me mal com o golpe de calor e a diferença de temperatura; Dos 24º bastou-me chegar aos 34º apenas com o abrir e fechar de uma porta, e já perto de casa a sensação era de 44º. É nestas alturas que gostava de hibernar num sítio fresquinho, juntar lá a família para os saber bem e ficar num cantinho qualquer isolado até passar tudo, até acabar tudo.