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Todas as crianças têm as suas histórias, de embalar ou não, preferidas. No meu caso, não era nenhuma das mais clássicas, embora fosse viciada num livro lindo das Mil e Uma Noites que a minha mãe me comprou e que ainda hoje tenho! Na hora de ir dormir eu escolhia a Flossie, a história de um monstrinho que está doente e que passa o dia em casa com a ama porque a mãe tem de ir trabalhar; apesar da história ter a família completa era com este triângulo que eu mais me identificava!
Isto para chegar ao facto de que histórias como a branca de neve ou a bela adormecida para mim eram apenas cassetes de vídeo da Disney, e não tinham para mim referente nos livros. Ainda assim acabei por me cruzar com o capuchinho vermelho de uma forma curiosa.
No primeiro ano de faculdade, o trabalho final da cadeira de desenho de comunicação era contar uma história a partir de desenhos que tínhamos feito ao longo do ano; podíamos usar todos, só alguns, e em pares, portanto tínhamos o dobro dos desenhos para escolher. Com uma colega minha acabámos por identificar alguns personagens e de repente tínhamos um triângulo que ligámos ao capuchinho vermelho: a menina, a avó e o lobo, que em vez de lobo era uma espécie de Cat Woman! Recriámos a história à nossa maneira: o capuchinho ia a casa da avó receber a mesada e quando lá chegava a avó já tinha sido “comida” pela gata que automaticamente ganhava características das personagens que “comia”. No final saía vitoriosa pois comia também a menina e saía da história no carro desta…. que era um carocha que eu desenhei numa folha A3! Guardei esses desenhos mas nunca mais me lembrei disso até ontem, à primeira aula de storytelling.
Storytelling vai ser a minha última cadeira deste curso, e ontem a primeira aula foi muito mais entusiasmante do que poderia esperar! Superou logo as minhas expectativas ao começar com um exercício prático para mudar a perspectiva: reescrever o Capuchinho Vermelho!
Primeiro pensei que o raio da história me perseguia, mas depois aceitei o desafio e escolhi o ponto de vista do lobo, mudando também o início da cronologia. Escolhi pintar um lobo menos mau, que andando pela floresta com fome em busca de alimento foi atraído pelo cheiro do bolo e do mel que levava a menina. Tentou meter-se com ela, na esperança que com medo esta lhe desse um pouco de bolo, mas a menina bem avisada pela mãe não caiu na conversa. O lobo ficou frustrado mas não desistiu e segui até casa da avó na ideia de pregar um susto à menina e ficar com o bolo. Ao chegar a casa da avó não resistiu aos seus instintos animais e comeu a avó; Desesperado pensou “perdido por cem, perdido por mil” e então esperou a menina disfarçado de avó! Quando a menina chegou tentou enganá-la mas em vão pois esta fugiu e na fuga levou a cesta deixando o lobo ainda mais frustrado, mas demasiado enfartado com a avó para a perseguir! Adormeceu, e quando acordou viu um caçador e percebeu que o conteúdo do seu estômago tinha sido adulterado, fugindo rapidamente antes que fosse o seu fim.
Em traços largos foi esta a minha perspectiva, que arrancou uma gargalhada à professora ao pensar que o lobo até só queria comer o bolo!
Para começo adorei esta aula e o exercício contribuiu para me lembrar o quanto gosto de escrever, e o quão fácil isso por vezes se torna.
Só tive pena desta professora embalar tanto nas aulas que dispensou o intervalo numa aula de 3h…o que me fez chegar a casa desesperada de fome! (Bendita sopa!!!)