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Já me me insurgi repetidamente contra o mercado de arrendamento, contra o excesso de turismo, contra o exagero de alojamentos locais, contra os preços exorbitantes da cidade, e contra a exploração que a arruínam.
Mas a verdade, é que Lisboa sempre foi cara, não tanto como hoje mas em proporção aos tempos que se vivem.
Há cerca de cinquenta anos a minha avó desceu da Graça, onde nasceu, cresceu e teve a primeira filha, ao Bairro América em Santa Engrácia. Um casal, uma filha de dez anos e outra a caminho destinados a um T1 de renda sufocante, fora do bairro que amavam e que mais tarde acabariam por comprar.
Mais recentemente, mas ainda há uns trinta anos, os meus pais foram obrigados a atravessar toda a cidade para uma casa em Benfica, a precisar de obras que pagaram do seu bolso, e mais uma vez, com uma renda altíssima. Vivi nessa casa até aos vinte anos e sempre vi a minha mãe fazer investimento e melhoramentos numa casa que nunca seria nossa; Quando finalmente conseguimos partir para a compra de uma casa, saímos de Lisboa, para conseguir uma casa dentro das possibilidades que não estivesse a cair de podre e tivesse o espaço que precisávamos e desejávamos. Nos últimos seis anos tenho vivido nas periferias, e neste momento tenho a sorte de ao menos morar perto do trabalho e de tudo o que preciso!
O estado das coisas não é infelizmente novidade, e embora revoltante temos que admitir que também há culpa "nossa" no cartório. Vejo muita gente jovem, de todos os cantos do país, chegar a Lisboa com o sonho de ser lisboeta, de viver a cidade na sua plenitude e que acabam por se sujeitar a dividir casas com três, quatro, cinco, oito pessoas ou a pagar 650€ por um T0 nas águas furtadas ao Príncipe Real que dividem com o gato. Porque morar em Lisboa "é outra coisa", concordam, não se queixam, aceitam, anuem, engolem o sapo. Sujeitam-se à máfia dos senhorios, às exigências, às duas e três cauções, aos comprovativos do IRS, ao fiador, à carta de apresentação, e sabe-se lá se ao registo criminal! Depois todos nos queixamos mas compactuamos com a situação e damo-nos por felizes por ao menos poder dizer que moramos ali na Avenida de Roma junto ao Frutalmeidas...