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Sobre os rankings...

por Catarina, em 19.12.16

Vou tentar ser curta (mas não prometo!) até porque acho isto essencialmente uma palhaçada mas ainda há quem veja importância nisto. Há quem ache uma maravilha saber que a escola do Luísinho é a melhor de Freixo de Espada a Cintra ou que a do Vasquinho é a melhor de Lisboa... Que isto é que é o valor da educação, que isto é que importa saber de uma escola, que os professores lá devem ser óptimos por isso os meninos vão ter notas fantabulásticas e entrar nas universidades (mesmo que ainda andem de fralda!). Ainda que uma parte disto possa estar totalmente certa, quão ridículo é comparar-se escolas e colégios privados, com todas as condições que têm, com escolas do estado, algumas a cair quase aos pedaços?!

Tenho a vantagem de saber do que estou a falar por dois motivos: um deles, andei em escolas públicas e privadas e tenho as experiências mais antagónicas que possa contar, e tenho uma mãe professora, por isso sei bastante do assunto.

Sei que os bons e maus professores existem em todos os lados, são como os bons e maus médicos, os bons e maus advogados... porque nem todos nascem para ser bons, e os bons estão muitas vezes onde menos se espera. Em ambos os contextos conheci bons, muito bons, maus e muito maus. Alguns que me marcaram pela positiva, outros pela negativa, mas sem sombra de dúvida que o balanço final pende para o ensino público (o contra senso é que com os horários que a minha mãe tinha no público eu tinha de andar no privado para não ter que andar sozinha de um lado para o outro!). 

Há muitas formas de conseguir estes resultados, há muitas maneiras de os inflacionar, mas não é sobre isso que quero falar. Não é sobre as aulas especiais de preparação para exames que os colégios arranjam (e cobram muitas vezes à parte), não é sobre as condições físicas excelentes que têm, o contexto socioeconómico ou os recursos disponíveis. Muitas escolas públicas em locais "finos" também vão partilhando estas condições, mas não é por aí que quero ir.

Interessa-me muito mais a realidade que tenho dentro de casa. Porque sei que há uma escola (onde a minha mãe até calha dar aulas há 20 anos) que só ainda não caiu pela força dos que lá estão dentro. É uma das muitas que ainda existem que estão provisórias há mais de 30 anos tendo sido construídas para durar metade desse tempo e que portanto estão em avançado estado de degradação. Este caso que acompanho há 20 anos já viu voar a cobertura (sim, não era sequer um telhado), não tem um quadro eléctrico decente que permita aquecimento nas aulas (vai abaixo assim que se liga algum) e a bem dizer da verdade todos os pequenos aquecedores que existiam nas salas avariaram sem que fossem depois reparados. As escadas do pátio estavam praticamente a cair, vários professores, alunos e auxiliares lá caíram e o pavimento era um buraco só até que há uns anos um grupo que tinha excedentes de obras foi lá e se ofereceu para alcatroar o espaço. Foi bom, mas foi pura caridade, quando este espaço é ensino público, aquele que todos nós pagamos. Sei que se estivessem outras pessoas à frente da direcção desta escola em particular uma boa parte dos problemas já teriam sido resolvidos, mas nem todos têm a mesma capacidade, e estes vão fazendo o que podem, com o pouco que têm.

Ali dentro a realidade é muito diferente, o contexto social, económico, cultural não é apenas um "bom" mas são muitos, variados, e muitas vezes maus. Falamos de crianças que vão à escola para comer, que vão à biblioteca porque não têm um livro em casa (às vezes nem têm casa) e porque ali podem usar um computador para jogar. Crianças que levam mantas para as aulas porque têm frio, porque a escola não tem condições e porque também não têm roupa mais quente ou em melhores condições para usar. Neste caos, esta escola é um porto seguro, onde há sempre uma refeição, um chá para aquecer alguém, um pão para alimentar uma boca, um banco de roupa para vestir um aluno, os pais, os irmão mais pequenos, quem precisar. Uma escola que tem um banco alimentar e que faz cabazes todas as semanas para os mais carenciados. Uma escola onde há um núcleo de alunos com necessidades educativas especiais que fazem trabalhos manuais para venda de forma a poderem adquirir mais material que precisam para trabalhar. Aqui os professores e auxiliares são para muitos uma família, e não é por acaso que no 9º ano muitos gostariam de não ter de sair dali, e nos anos seguintes vão sempre voltando para visitar. Esta é uma escola que marca. 

 

Agora digam-me, apenas com este "pedaço" de informação que partilhei, dá para comparar?! As pessoas aqui têm o mesmo valor? Vale a pena fazer rankings? Não devíamos ter uma melhor distribuição de recursos? O nosso dinheiro não deviam estar melhor empregue em enriquecer a escola pública? 

 

Então isto serve para quê mesmo?!

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2 comentários

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De Chic'Ana a 19.12.2016 às 11:54

Concordo completamente... isto dos rankings é muito bonito, mas não avalia se uma escola é melhor ou pior que outra. AValia mais o contexto económico dos alunos que lá estão (não retirando o mérito a alunos desfavorecidos e que têm notas exemplares).
Beijinhos
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De Catarina a 19.12.2016 às 14:29

Exactamente! Não retiro esse mérito, mas a comparação em si é descabida :)
beijinhos

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