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Há algumas semanas ficou definitivamente fechado o mal fadado tema da casa. Pela minha parte acabaram as mudanças, ainda que as arrumações possam durar os próximos meses. Sobram três cadeiras para o sótão da avó, e umas caixas aos cantos que ainda não viram luz do dia, assim como a roupa que ainda anda aos saltos entre gavetas, e a estante que tem tantas caixas como livros e uma cesta da praia. Mas agora sei que aos poucos vou voltar a ter tudo arrumado, especialmente quando o tempo mais fresco chegar e eu não tiver tanta vontadinha de laurear a pevide!
Se nos primeiros dias estranhei a cama maior só para mim, agora estranho é quando ele lá poisa, e habituei-me lindamente aquele espaço todo para dormir na diagonal! Às vezes bate uma melancolia, como um ventinho que passa de repente e nos arrepia; Ainda ontem fui à tiger buscar canetas e derreti-me por dois segundos na secção de utensílios de cozinha, até ter aquele arrepio que me disse "não vale a pena, já não tens casa para isso!".
Outras vezes também choco com a minha mãe; Já me tinha secretamente habituado a estar sozinha e estava a gostar da ideia; gosto de estar ali outra vez, sabe bem, parece "certo" e estou super confortável, mas às vezes chocamos pois criei alguns hábitos diferentes.. Na segunda feira, porque sabia que no resto da semana não tinha tempo quis cozinhar durante hora e meia para despachar sopa e almoços, e tivémos ali um pequeno bate boca porque ela entendia que eu não devia ir para a cozinha fazer tudo aquilo que lhe estava a dizer porque estava cansada e blábláblá. É mãe, e isso diz tudo!
Ontem passei de carro pela alameda da universidade quando ia para casa; Vi os estudantes no relvado e recordei-me de uma reportagem que ouvi no outro dia em que alguém dizia que aqueles eram os melhores tempos da nossa vida. Não me revi nisso, e ontem comprovei que não tenho saudades desse tempo. Posso ter saudades de algumas coisas, da vida boa que tinha, do tempo que tinha para ir a exposições, para ler... Mas não voltaria atrás por nada. Quando olho ao espelho sei que estou mais ou menos onde queria estar. Apenas tenho de ter cuidado, porque tenho uma formatação que me impele a acomodar-me aos sítios e às pessoas, neste caso também ao trabalho onde estou há três anos, e que apesar de o adorar, às vezes questiono-me se não deveria ambicionar novos desafios, outros locais ou geografias. Tenho medo do tempo; Tenho medo de um dia acordar e ver que é tarde de mais, que os dias se atropelaram e a oportunidade passou. Agora, agorinha mesmo, não tenho rendas nem grandes responsabilidades para me prenderem, mas tenho uns grilhões nos pés com toneladas postos por mim, chama-se medo! Medo de mudar, de arriscar, de perder a tão adorada estabilidade. E mais, esse medo cresce com a falta de capacidade que tenho para me visualizar daqui a alguns anos; não consigo encontrar o "sítio" onde quero estar, o patamar, os objectivos. É uma certa falta de foco, de planeamento que me desconcerta. Por isso os dias vão andando, uns atrás dos outros, e eu faço por não parecer que o tempo me escorre das mãos.