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Há quase dez anos atrás, enquanto vagueava meio perdida na Bertrand do Chiado (à época eu praticamente vivia no Chiado..!), um estranho disse-me "tens de sorrir mais" enquanto desenhava com os dedos no seu rosto um sorriso. Passou por mim e rumou à secção de arte, de onde eu vinha a sair, que ficava no fundo da loja.
Estaquei um momento, atónita, a pensar porque alguém pararia para me dizer algo assim...olhei-me no reflexo do vidro e vi-me. Vi um rosto infeliz, alguém sozinho, pendurado por fios invisíveis, que sustentavam um mar de coisas difusas lá dentro. Era paixão. Pior, era, provavelmente paixão correspondida... Paixão inconveniente, daquelas adolescentes que nos matam e deixam uma lasca. Paixão que se ficou nos bastidores, optou por não se revelar, por não se assumir, e assim, não ter de lidar com ela própria. Teria dado trabalho, ninguém sabe se teria valido a pena.
Não a lamento. Fica para sempre na caixa das coisas não vividas, e que um dia quando olhamos para trás nem acreditamos que as pensámos viver!
Recordo muita vezes aqueles segundos na Bertrand, em que depois do choque, sorri. Sorrio sempre que me lembro.
Obrigada estranho.