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Este tema não é novo aqui no blogue, e já expliquei porquê; Naturalmente que me é mais fácil falar de algo que me é familiar, um tema que conheço de perto mais do que de outros, de outras classes, que não domino.
Ontem a meio de uma bela tarde de praia deparei-me com uma notícia do público e outra no observador (os nomes estão com minúscula porque não reconheço a nenhuma das fontes o mérito para a maiúscula).
O tema: salários dos professores;
A origem: teoricamente um estudo da OCDE sobre e estado da Educação em 2018 (Education at a Glance 2018);
O objectivo: mais um ataque e uma difamação gratuita da classe docente, que os media não se cansam de humilhar continuamente e que chega num timing muito conveniente ao nosso governo que está em braço de ferro com os sindicatos sobre o prometido descongelamento de carreira, que afinal para António Costa é só dar um calorzinho, e não um descongelamento integral e justo. Promessas, de facto leva-as o vento.
As manchetes: "Professores ganham mais 35% do que a média dos trabalhadores qualificados" (público) e "Professores portugueses são dos mais velhos da OCDE e recebem mais do que outros licenciados" (observador);
Algumas notas sobre o estudo, que ainda não consegui ler todo mas que já consultei:
- os dados têm várias fontes, naturalmente, e vários anos: alguns de 2015, outros de 2016, 2010, etc. o que torna difícil a interpretação de resultados e pode suscitar comparações em condições pouco equivalentes: vários anos de dados, diferentes países e continentes e realidades e contextos;
- no que toca a salários, compararam-se valores em euros, libras e dólares;
- uma nota no indicador C7 do estudo ressalva:
The salary cost of teachers per student is estimated based on values for statutory salaries of teachers after 15 years of experience and the most prevalent qualifications (see Indicator D3), theoretical instruction time of students (see Indicator D1) and statutory teaching time of teachers (see Indicator D4). This measure may differ from the actual salary cost of teachers, as a result of the combination of actual average values for these four factors.
É no mínimo curioso que num relatório tão extenso, que foca tantos temas pertinentes da educação, os media escolheram focar-se num só, aquele que inflama mais a sociedade e que provavelmente é mais conveniente a alguns órgãos. Mais do que isso, pegaram nos dados, baralharam e deram de novo conforme lhes interessou.
Portanto à pseudo-imprensa uma questão: O que é que os media em portugal têm contra a classe docente?
Desde o tempo da não saudosa Maria de Lurdes Rodrigues que os meios de informação têm ajudado a denegrir a imagem da classe perante a sociedade e especialmente perante os pais e encarregados de educação esquecendo que em última instância são esses profissionais que formam e até educam os jovens para o futuro.
Quanto à tabela salarial é pública e pode ser consultada não havendo razão para publicar deliberadamente informações incorrectas, a não ser dar continuidade a acções de calúnia. Tanto quanto sei, em teoria pelo menos, a função dos media é informar, de forma isenta, e não redigir ataques gratuitos encomendados que transbordam em segundas e terceiras intenções.
Depois resolveram atacar a comparação entre professores e outras áreas dentro da função pública, que do que já vi do estudo não encontro relação ao tema no mesmo e que levantava ainda mais questões se fossem notícias sérias. Se quiserem fazer o trabalho de casa vão ver quanto gastam os professores que trabalham deslocados de casa, vão fazer contas às suas vidas, aos gastos de ter duas moradas e/ou de percorrer quilómetros diariamente, e vão ver que ao contrário de certos gabinetes estes não têm ajudas de custo, nem motoristas nem nada que se pareça levemente com uma compensação;
Mais, aproveitem o t.p.c. e vejam também o desgaste a que a profissão está sujeita, físico e mental, e comparem com outras funções a que já compararam os salários, para verem se é equivalente. Já nem digo para verem as condições de algumas escolas, e o trabalho que é feitos nestas apesar disso, porque gente que escreve lixo deste não merece passar das portas para dentro.
Só posso com isto concluir que há meios de comunicação neste país que não honram a profissão, a ética e o rigor. Que escolhem os dados a dedo, que interpretam livremente e sem regras e que geram propositadamente notícias falsas, baseadas em pseudo-verdades que nem eles próprios compreendem. Isto será excesso de democracia ou falta de regulação? Afinal somos livres, temos liberdade de pensamento e escrita, e aparentemente não somos chamados à pedra pelas nossas acções, quando como meio de informação, com os recursos que temos à nossa disposição e o alcance que a má informação tem devíamos ser responsabilizados criminalmente por tanta difamação. Danos destes são, mais uma vez, irreparáveis.