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Uma aventura na linha do interior

por Catarina, em 13.11.18

No fim de semana passado fui visitar o M.! Há alguns meses atrás a vida profissional pediu uma mudança, e essa mudança implicou 400km, mais coisa menos coisa, entre nós. Até agora tinha sido sempre ele a vir cá abaixo, então resolvi eu experimentar ir lá acima.

Como não me encantava a ideia de ir sozinha de carro, até porque ia ao final do dia e era uma estopada a conduzir, resolvi-me pelo meu meio de transporte favorito para estas ocasiões, o comboio.

Comprei os bilhetes com alguma antecedência e ficaram bastante baratos. Marquei o intercidades até Castelo Branco na ida (para chegar a horas de jantar minimamente razoáveis) e no regresso iria apanhar o dito na Covilhã. 

 

Como o frio tinha apertado ia levar um saco a mais com roupa mais quente para ele, para além do meu saco, portanto quando cheguei na sexta ao fim do dia à Gare do Oriente parecia um lutador de sumo. Nunca gosto de levar malas com rodas porque acho que é pior andar a subir e descer do comboio com elas, e a Gare do Oriente para mim é a pior estação da história em termos de acessibilidade.

À hora certa, honra lhe seja feita o comboio surgiu na plataforma, mas quando olho para ele ia-me caindo tudo ao chão…. já tinha viajado no intercidades, vinda da Guarda ou do Porto, ou seja na linha do litoral, de forma que não me passava pela cabeça que a designação “intercidades” naquela linha se convertia num comboio que mais parecia um regional ou sub-urbano! Ainda pensei que me tivesse enganado no comboio, ou na linha, ou qualquer coisa, mas rapidamente verifiquei que não. Na atrapalhação não vi o nº das carruagens e entrei ao calhas, parecendo uma embalagem de sacos com pernas, achando que lá dentro podia identificar a carruagem certa. Bingo! 2º erro da noite! Não se percebia a ponta de um corno da informação dentro da carruagem, a sinalética era uma miséria e dei por mim a passar carruagens para o lado errado, e a voltar para trás, quase aos tombos. Escusado será dizer que passar carruagens naquela coisa é um problema só. Achei que teria de ser um verdadeiro lutador de sumo para abrir o raio da porta! Por fim encontrei uma carruagem cujo número não batia com nada (que novidade…) mas que dizia primeira classe, procurei o lugar com o meu número e sentei-me, algo surpreendida por a carruagem estar vazia, apesar das outras circularem cheias…

Continuei a pensar que me tinha enganado no bilhete, fui à net confirmar, mas tudo batia certo.. Menos o aspecto do comboio, a falta de conforto dos bancos, as luzes fortíssimas na minha cabeça, o tremelique constante do bicho que mais parecia que viajava numa trituradora com rodas quadradas.

 

Uns 40 minutos depois apareceu um revisor; depois de lhe mostrar o bilhete perguntei: “este comboio é o intercidades certo?” (achando que ele me ia dizer que por engano tinha entrado no regional) ao que me disse que "sim, era o intercidades"; Depois perguntei se estava no sítio certo, porque tinha entrado ao calhas, e disse-me que não, que a minha carruagem era a 1, e estava a viajar na 4, que era na mesma a dita 1ª classe, portanto para estar descansada que podia ficar ali… Depois acrescentou “sabe nesta carruagem nem viaja aqui ninguém, é que ela não aparece no sistema para reserva de bilhetes”. E eu pensei para mim “Boa! estou na carruagem fantasma, do comboio do terror!!! Não podia melhorar...”

 

Talvez importe esclarecer que sou pessoa de estômago frágil, que enjoa com demasiada facilidade, e aquelas três horas de abanões e sobressaltos deram-me cabo dos nervos, só pensava que no domingo o regresso seriam 4h e estava em pânico. 

 

Quando finalmente cheguei respirei de alivio e durante o fim de semana resolvemos que o M. me levava novamente a Castelo Branco para o regresso, e assim eu poupava 1h de viagem. (Isto depois de recusar que ele me trouxesse de carro a Lisboa, tal foi o ar de morta com que lá cheguei...)

 

Só que não! Com todo o meu azar domingo foi um temporal só, e apesar de só ter apanhado o comboio em Castelo Branco levei na mesma 4h de viagem porque havia “problemas na sinalização”, o que fez o comboio andar super devagar o tempo todo. Por um lado a velocidade passou a ser à prova de enjoos, por outro não sei o que foi melhor, se a viagem para cima a horas e aos solavancos, se a viagem para baixo, a 10 à hora, com a porta da casa de banho ao meu lado sempre a bater no trinco durante 4h. Isto sempre chovendo torrencialmente, o dia escuro como breu, e uma paisagem aterradora para o tempo que estava, que me dava a sensação que preferia não ver o exterior quando passava no fundo de encostas escarpadas, em túneis e pontes sobre cascatas… lindo, para um dia de sol.

 

A viagem foi basicamente um pequeno inferno sobre carris, numa altura em que o tema dos comboios está tão em alta fiquei a perceber na pele o que é sair do litoral e encontrar tanta falta de condições. Há que dizer que apanhei dois revisores muito simpáticos, portanto o mal não está claramente nas pessoas, mas sim nas condições com que trabalham.

 

Quanto ao homem, está-me a viver numa aldeia que mais parece um postal de natal, fria comódiabo (e estando a chover posso garantir que não foi o auge do frio, e ainda assim era bastante frio), mais ou menos feliz…. bem, não era bem isto que tínhamos em mente quando ele resolveu ir e eu apoiei. Agora é aguentar, andar para a frente, cara alegre, e descobrir outra forma de chegar ao fim do mundo que não envolva a linha da beira!

 

Ah, e até 2019 é ele a voltar a Lisboa, porque eu preciso de me recompor desta desgraça!

 

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4 comentários

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De P. P. a 13.11.2018 às 22:19

Lamentável :(
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De Nuno a 29.11.2018 às 08:46

Podes sempre ir de autocarro até porque para aqueles lados a vida vive-se a outro ritmo e com outro encanto
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De Catarina a 05.12.2018 às 10:18

O autocarro não é muito a minha praia porque tenho tendência para enjoar e aguento melhor o comboio...mas não aquele!!

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