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A propósito de um vídeo que vi no facebook, sobre as formas estranhas como vivemos em sociedade hoje em dia, a que mais me aflige é o dilema do smartphone. Até foi preciso adoptar uma nova palavra, porque "telemóvel" simplesmente já não serve. Vivemos com uns tijolos cada vez maiores, a servirem de apêndice, como uma prótese nas nossas mãos.
Não vivemos sem o wi-fi, o Bluetooth, os dados, os hotspots e o diabo a sete. Vemos o facebook, o instagram, o twitter, o tinder e o snapchat, de manhã, a meio da manhã, ao almoço, à tarde, ao jantar, depois de jantar e antes de dormir. Vemos as "notícias" mesmo que estejamos num grupo de pessoas à conversa, num jantar romântico ou num almoço de domingo em família. "Ver as notícias" tornou-se uma metáfora para "vou cuscar o que os outros andaram a fazer". É assim que definimos qual o próximo bar que vamos experimentar, qual a melhor pizzaria ou destino de férias... Porque se o/a fulano/a tal esteve lá e diz que aquilo é cinco estrelas, publicou uma foto cheia de filtros do prato de comida e ainda fez uma selfie muito gira, então temos de lá ir e repetir-lhe a experiência.
Vivemos cada vez mais mediados pelas redes sociais, a querer viver o que os outros vivem, sem saber como passar as horas sem chamar a atenção sobre si mesmo, sem mostrar que bonita estava a salada de camarão na esplanada ou quão boa era a sangria de espumante daquele restaurante chique novo. Não sei se o que mais atrai as pessoas para isto é a falta de vida para viver ou se a curiosidade, quase mórbida, de ver os outros, qual voyeur.
Da mesma forma que o "design" ou o "gourmet" se apoderaram das nossas escolhas, também a tecnologia nos faz reféns sem que o consigamos perceber. Se tivesse paciência, gostava de contar o tempo que passo no facebook durante a semana, a fazer correr uma data de notícias que na maioria das vezes não me dizem muito. Aposto que me ia assustar com a quantidade de tempo perdido.